Divagacoes tupiniquins em Buenos Aires.

Tuesday, December 21, 2004

Confirmando Cliches Inevitáveis - 2

Buenos Aires é um labirinto.

Às margens do Rio da Plata, numa enorme superfície plana, Buenos Aires foi desenhada como um tabuleiro. Heranca de sua colonizacao espanhola, a cidade e' toda quadriculada, com suas ruas e avenidas sempre cruzando-se na retidao dos noventa graus. Execoes existem, claro, mas so' fazem confirmar e explicitar ainda mais a regra.

À primeira vista, ou 'a primeira visita, isso parece otimo. Nao poderia haver jeito melhor para um forasteiro se achar numa cidade. Ruas planas e retas, quarteiroes civilizadamente organizados. Bastaria consultar um mapa, de quando em quando, e saber contar as travessas. Nao poderia haver dificuldade.

Ledo engano. Sorrateiramente, o labirinto se revela. De repente e' um tal de acho que já passei por aqui ou será que estou indo no sentido contrário e onde mesmo era aquele bar bacana? O que parecia improvável, depois se revela cruelmente óbvio - tudo foi friamente planejado para que voce rodar e rodar e rodar. Tudo conspira: a similaridade das esquinas, a constância do relevo, o padrao arquitetonico, e pouco a pouco a cidade vai engolindo quem subestimou seus segredos.

Ao caminhar, qualquer planejamento inevitavelmente se transforma em improviso. As referencias sempre se revelam múltiplas. Os cafés, locutórios, pracas, vao se repetindo pelo caminho e, pronto, de repente voce esta perdido e, portanto, deliciosamente entregue a sua intuicao. Tentar voltar, ou refazer o mesmo roteiro, e' dificilimo pois os locais se assemelham, constantemente parecem familiares, agradáveis, acolhedores. Voce pode achar que ja esteve ali mas, engano seu, tudo ja mudou de endereco.

Ja senti na pele que refazer um caminho de memória em Buenos Aires requer experiencia, muita experiencia. Nao faltaram vezes em que eu encontrava algo interessante, uma loja de CDs, uma livraria, um café, e fazia a anotaçao na cabeça para voltar ali mais tarde. Ingenuidade de principiante. Inexplicavelmente, aquele lugar desaparecia da cidade ou, pelo menos, eu nunca mais conseguia achá-lo novamente.

Um remédio seria recorrer à absoluta disciplina de anotar tudo, endereco, número, latitude e longitude. Criar uma espécie de metodo de navegacao germanica. O que, bem, além de nao ter deixado grandes provas de sucesso na história, seria muitíssimo chato de se fazer. Outra opçao, muito mais atrativa alias, é resignar-se. Apostar na intuiçao, que por muitas vezes acerta o caminho. E quando nao acerta, entregar-se a experiencia de se perder repetidas vezes por lugares que apenas tem como defeito o fato de possuírem coisas interessantes demais para se ver.

Perdendo-me muitas vezes aos poucos vou me encontrando.

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