Divagacoes tupiniquins em Buenos Aires.

Tuesday, March 13, 2007

Finalmente, algumas dicas úteis

Dois anos após o fim da minha viagem e, consequentemente, também o fim deste blogue, volto a postar por aqui.

É que, naturalmente, depois deste meu mês em Buenos Aires, sempre que um amigo vai embarcar para a capital portenha (e parece que cada vez mais amigos embarcam para a capital portenha) recebo o pedido de alguma dica útil sobre a cidade. Na primeira vez que isso aconteceu, me empolguei tanto em compartilhar tudo que adorei por lá que preparei um e-mail gigante, repleto de sugestões e endereços. O tal e-mail, é claro, foi reaproveitado diversas vezes dali em diante.

Aproveito então para finalmente publicar essas dicas por aqui. Se alguém tiver a sorte de estar a caminho de Buenos Aires brevemente, aproveitem as sugestões e recebam toda a minha imensa e infinita inveja. Um dia também volto pra lá.

***

Seguem então alguns lugares que não se pode deixar de ir:

Bairro de San Telmo - Feira de Antiguidades (aos domingos)
É algo como o Bexiga, um bairro italiano antigo, cheio de sobradinhos do começo do século. A Feira de Antiguidades é muito legal.


Bairro de Palermo Viejo - Feira de Artesanato (aos domingos)
É o bairro descolado do momento, tipo uma Vila Madalena mais tranquila. Tem uns restaurantezinhos cool, lojas de roupas hippie-mudernas, galerias de artê. A feirinha é bem animada, cheio de "gente jovem e bonita".

Puerto Madero
É o antigo porto da cidade, agora modernizado. É um ponto turistico óbvio, mas lindo. Um calçadão à beira dos canais das docas, com dezenas de restaurantes. Tente ir também a noite, quando fica mais bonito ainda. Almoce na churrascaria Siga La Vaca (20 pesos e coma à vontade) ou jante no La Caballeriza (carnes maravilhosas, em ambiente mais chique e, lógico, caro).

Bairro da Recoleta - Feira de Artesanato e Cemitério.
É o bairro chique tradicional, tipo Jardins-Higienópolis, muito bonito e arborizado. A Feira acho que tem todos os dias. Não coma na região, pois é muito caro, tudo restaurante pega-turista.

No Centro, a dica é passear pela Rua Florida, o inevitável calçadão comercial e turístico. Aqui vale a pena não dar muito mole pros trombadinhas. Mas sem grilo, é só não ficar exibindo a filmadora. Uma ótima ocasião para se juntar aos locais é comprar algumas empanadas e ir almoçar sentado no gramado do Parque San Martín (no final da rua Florida). Depois, caminhar pela Av. Santa Fé (avenida de comércio mais chique).

Também no centro, na Rua Reconquista, tem dois pubs com música ao vivo, o Matias e o Kennigans. Baladinha leve e divertida.

Não deixe de ir ao Notorious (Av. Callao, 966), uma loja de discos de jazz e rock que também é um restaurante e tem shows todas as noites. Imperdível.

Um lugar descolado para comer é o Bistrot Dadá(Rua San Martin, 941) muito pertinho da Rua Reconquista.

Se quiser comprar roupas moderninhas, a loja da Puma é uma boa dica. Tem na Rua Florida e na Avenida Santa Fé, onde, ao ladinho, também tem uma loja da Adidas.

Outra lugar "descolê" é a Bond Street. É uma galeria muderninha, tipo a galeria do rock de São Paulo, cheia de lojas de discos, roupas, quinquilharias, etc. Fica na Avenida Santa Fé, 1630.

Se quiser comprar livros a Avenida Corrientes tem a maior concentração de sebos gigantes que eu já vi na vida. Lá também se localizam os teatros e no sábado o movimento de pessoas caminhando pela avenida atravessa a madrugada.

Para livros e cds novos, a cidade tem diversas lojinhas e megastores, mas o El Ateneo na Av. Santa Fé,1860 vale a visita. Foi construído dentro de um teatro antigo e é lindo.

Não deixe de ir também a Biblioteca Nacional, perto da praça Evita Perón. O prédio da biblioteca é animal. Vale também a pena subir, entrar na biblioteca e apreciar a vista lá de cima.

Um lugar bacana pra assistir filmes argentinos é o cinema da sede da INCAA (Instituto Nacional de Cine Y Artes Audiovisuales). Fica no centro, na rua Lima, 319.

Ah, não esqueçam de sempre pedir a QUILMES de LITRO. Muito mais econômica. E também sempre prefiram o BIFE DE LOMO (uma espécie de filé migon), muito mais macio que o BIFE DE CHORIZO (tipo um contra filé).

Disfruten.

Friday, December 24, 2004

Na Verdade

Mantendo a veracidade disso aqui, preciso dizer que já estou de volta à terra brasilis. Cheguei anteontem.

Mas ainda tenho muito pra postar sobre as terras do sul, anotacoes que sobraram e uns links legais pra mostrar. Entao este bloguito ainda continua por mais um tempo.

E para quem passar por aqui hoje ou nos próximos dias, um feliz Natal, um excelente reveillon e um 2005 sempre melhor.

Tuesday, December 21, 2004

Confirmando Cliches Inevitáveis - 2

Buenos Aires é um labirinto.

Às margens do Rio da Plata, numa enorme superfície plana, Buenos Aires foi desenhada como um tabuleiro. Heranca de sua colonizacao espanhola, a cidade e' toda quadriculada, com suas ruas e avenidas sempre cruzando-se na retidao dos noventa graus. Execoes existem, claro, mas so' fazem confirmar e explicitar ainda mais a regra.

À primeira vista, ou 'a primeira visita, isso parece otimo. Nao poderia haver jeito melhor para um forasteiro se achar numa cidade. Ruas planas e retas, quarteiroes civilizadamente organizados. Bastaria consultar um mapa, de quando em quando, e saber contar as travessas. Nao poderia haver dificuldade.

Ledo engano. Sorrateiramente, o labirinto se revela. De repente e' um tal de acho que já passei por aqui ou será que estou indo no sentido contrário e onde mesmo era aquele bar bacana? O que parecia improvável, depois se revela cruelmente óbvio - tudo foi friamente planejado para que voce rodar e rodar e rodar. Tudo conspira: a similaridade das esquinas, a constância do relevo, o padrao arquitetonico, e pouco a pouco a cidade vai engolindo quem subestimou seus segredos.

Ao caminhar, qualquer planejamento inevitavelmente se transforma em improviso. As referencias sempre se revelam múltiplas. Os cafés, locutórios, pracas, vao se repetindo pelo caminho e, pronto, de repente voce esta perdido e, portanto, deliciosamente entregue a sua intuicao. Tentar voltar, ou refazer o mesmo roteiro, e' dificilimo pois os locais se assemelham, constantemente parecem familiares, agradáveis, acolhedores. Voce pode achar que ja esteve ali mas, engano seu, tudo ja mudou de endereco.

Ja senti na pele que refazer um caminho de memória em Buenos Aires requer experiencia, muita experiencia. Nao faltaram vezes em que eu encontrava algo interessante, uma loja de CDs, uma livraria, um café, e fazia a anotaçao na cabeça para voltar ali mais tarde. Ingenuidade de principiante. Inexplicavelmente, aquele lugar desaparecia da cidade ou, pelo menos, eu nunca mais conseguia achá-lo novamente.

Um remédio seria recorrer à absoluta disciplina de anotar tudo, endereco, número, latitude e longitude. Criar uma espécie de metodo de navegacao germanica. O que, bem, além de nao ter deixado grandes provas de sucesso na história, seria muitíssimo chato de se fazer. Outra opçao, muito mais atrativa alias, é resignar-se. Apostar na intuiçao, que por muitas vezes acerta o caminho. E quando nao acerta, entregar-se a experiencia de se perder repetidas vezes por lugares que apenas tem como defeito o fato de possuírem coisas interessantes demais para se ver.

Perdendo-me muitas vezes aos poucos vou me encontrando.

Lembranca da Chegada

Com sorte, cheguei a Buenos Aires ainda pela manha. Quando pude avistar a cidade, no cantinho da janela do aviao, nao eram ainda dez e meia. Sol a pino e céu aberto. Depois de mais de uma hora sobrevoando a planície dos pampas, agora estavamos sobre mar. Mais tarde eu viria a saber que aquilo nao era o mar coisa nenhuma, era apenas o Rio da Prata se esparramando sobre a planicie ate alcancar o Atlantico. O que me interessava, no entanto, estava do lado de la do rio. Do outro lado daquela vastidao de agua azul escura, via-se uma imensa chapa branca refletindo a luz do sol. Continuava tudo plano, tudo imenso, mas a medida que chegava mais perto, agora ja' olhando de cima, percebe-se que aquele branco cegante nao é totalmente branco, mas está rajado, cortado, manchado, de preto, de verde, de algum vermelho. É a cidade, na verdade. Imensamente plana, se extendendo até onde nao é mais possível se ver.

Saturday, December 18, 2004

Dormir

Como diria aquele pretenso filósofo italiano, um pouco de ócio traz muitas revelacoes. Oportunidade rara para se conhecer melhor e chegar a algumas conclusoes geralmente inúteis.

O auto-conhecimento da semana foi o seguinte: meu sono solto, sem amarras nem culpas, é dura 10 horas por dia. Cheguei à conclusao que esta é a minha natureza.

Já outros filósofos diriam que para um homem progredir, claro, deve domar sua natureza. Chama-se civilizacao. Com alguma disciplina, portanto, creio que sete ou oito horas sao números satisfatórios. Por outro lado, as 5 horas diárias que foram minha rotina nos últimos meses de trabalho é fazer mal-trato demais ao equipamento que me foi disponibilizado.

Difícil o caminho do meio. Na dúvida, vou acumulando meu crédito por aqui.

Esperanto

Para um brasileiro, argentinos conversando em espanhol parecem falar italiano.

Wednesday, December 15, 2004

Rotinas

Realmente nao se vive sem elas. Mesmo de férias, parece ser impossível fugir das rotinas. Aos poucos, vou fazendo minhas opçoes, escolhendo o que mais me apetece no dia-a-dia. E no final, percebo que estou apenas trocando, arranjando novos costumes para colocar no lugar dos antigos.

Fora de casa, o engraçado é que senti mudanças mais marcantes principalmente em duas rotinas - comer e se plugar (sinal dos tempos...). Antes, tais necessidades básicas eram providas confortavelmente, em casa ou no trabalho. Agora, ao contrário, tenho que ir a luta para conseguir saciá-las. Nunca sei bem o que vou encontrar. É claro que, lentamente, vou criando algumas técnicas para a escolher uma caça satisfatória.

Minha alimentaçao mudou bastante. Mas nao é nada dificil comer bem por aqui. Depois me alongo mais a respeito do cardápio. No entanto, por incrível que pareça, tem sido mais fácil escolher um bom prato do que se dar bem na escolha do acesso internético.

Eles chamam de "locutórios", e essa palavra truncada dá nome aos pequenos lugares que oferecem cabines telefonicas, para ligaçoes internacionais, e computadores, para acesso à internet. Existem milhares de locutórios em Buenos Aires. Mas, em cada um, um problema diferente. Conexao lenta, cadeira desconfortável, gente fumando ao lado, ar condicionado sempre fortíssimo ou desligado.

Desta vez foi uma pentelhíssima barra-de-espaço, que consegue estar solta e travada ao mesmo tempo. E, entre pancadas no teclado, vou esperando que, da próxima vez, eu tenha a sorte de encontrar um locutório só um pouco melhorzinho.

P.S.: Eu pensei que o "milhares" acima fosse uma hipérbole, mas descobri hoje que nao ultrapassa literalmente a verdade - existem 9.000 lutórios na Grande Buenos Aires, que abrigam 52.600 computadores. Acabei de ler no jornal...

Monday, December 13, 2004

Vedetes

Uma presença constante na mídia argentina sao as chamadas "vedetes". Garotas lindas, loiras ou morenas, com proporcoes admiráveis, que circulam sem parar pelos programas de TV, pelas capas de revista e pelos eventos sociais. Sempre com trajes idealmente planejados para exibir as mais belas linhas já criada pela natureza. Ou pela tecnologia, quem se importa?

Sem novidade quanto a forma e ao conteúdo, pois no Brasil se passa o mesmo. O interessante é que, sem hipocrisia, os argentinos dao nome e funcao ao que no Brasil denominamos puritanamente de "modelo, atriz e manequim".

Ora, as vedetes nao precisam dizer que têm outra profissao. Nao sao modelos (nao se espera que desfilem em Paris ou Milao), nao sao atrizes (pelo menos nao com pretensoes à sério) e também nao sao manequins (aliás, eu nunca entendi direito o que era especificamente uma manequim...). Também nao sao garotas de progama. Pelo menos nao necessariamente e esta imagem realmente nao está ligada ao termo por aqui.

A funcao das vedetes é uma só: mostrar o que tem de melhor. Nos programas de TV, elas aparecem em trajes sumários sem precisar dar a desculpa de estarem fazendo desfile de lingeries. Apenas se desfilam.

Afinal, todo cidadao de bem também deve ter direito de apreciar o que é belo. A caridade típica de um país fortemente católico.

De onde vem os nomes

O título do post anterior nao tem uma relaçao necessaria com o nome deste blogue. Pelo menos nao intencionalmente. O post foi escrito depois do batizado e, ao terminar de escrevê-lo, me pareceu que o mesmo nome viria a calhar. Uma pequena coincidência proposital.

Reconquista é o nome da rua onde estou hospedado. É uma das ruas do centro da cidade, entre Puerto Madero e a Avenida 9 de Julio. Convenientemente, a escola de espanhol fica na mesma rua, a uns dois quarteiroes de distancia.

O pronome "la" foi introduzido por necessidade. Há um outro blogue hospedado sob o nome de "reconquista". E deve-se tomar cuidado para nao confundir-se, pois é escrito por um gajo português que tem posicoes bem reacionárias.

A reconquista dele deve ter alguma conotaçao política. A minha, "la reconquista", bem, é só uma rua que deu nome a um blogue.

Reconquista

Como disse antes, demorei bastante para me sentir em Buenos Aires. Isso já aconteceu comigo em outros lugares, mas aqui a sensacao de desencontro foi muito mais forte e estranha.

Para começar, esta cidade é um labirinto de referências. Caminho pela Calle Florida, um calcadao de comércio no centro da cidade, e me imagino na Rua XV de Novembro em Sao Paulo. Espio adentro de um restaurante e vejo dezenas de jámons, aqueles presuntos espanhóis deliciosos, pendurados na parede. Olho para uma banca de jornal, e o Pedro Almodóvar me encara numa capa de revista. O nome da revista, Les Inrockuptibles, uma piada em francês.

Termina o calçadao de comércio e entro numa larga avenida. Em ambos os lados, calçadas amplas e arborizadas. Em cada esquina, um café parisiense espalhava suas mesas e cadeiras pelo passeio público. Chego a um cruzamento movimentado e vejo três ou quatro garotos fazendo malabarismo entre os carros. Bolinhas coloridas voadoras que me dao uma estranha sensacao de estar em casa. Um obelisco corta o horizonte. Já vi isso em outro(s) lugar(es)? Ao final da grande praça, um relogio inglês. Também nao deixe de visitar a igreja russa, claro. Nem pense em nao ir a San Telmo, o bairro dos imigrantes espanhóis e italianos que chegaram no início do outro século.

Tanta coisa diversa, tanta coisa já vista. Tudo, aos poucos, reforçando a estranheza inicial e ampliando a impressao do surreal. E trazendo a mente um inevitável clichê: a sensaçao de estar em todos os lugares ao mesmo tempo e, ainda assim, nao estar em nenhum deles.

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Buenos Aires já possui todos os símbolos globalizantes que poluem a personalidade singular de uma cidade. Além das dezenas de trade-marks globais (McDonald´s, Coca-Cola, Shell e outras tantas), agora ainda os automóveis me parecem todos vulgarmente familiares. É claro, isso nao é um fenomeno especifico de Buenos Aires. Noventa por cento das cidades do mundo passam pelo mesmo. Para temor dos agentes turisticos, aumentam a cada dia as coisas que sao iguais em qualquer lugar no mundo.

No entanto, a coisa aqui é diferente. Da mesma maneira que Sao Paulo ou Rio de Janeiro, a confusao multinacional de Buenos Aires já é antiga. Somos todos do Novo Mundo, afinal. Nossas influencias vem do além-mar já há séculos, somos calejados de globalizaçao.

As metrópoles brasileiras, entretanto, servem apenas de referência inicial. Diferentemente da nossa tropicaliente Antropofagia, os portenhos lidaram com sua diversidade de outra maneira. Se o ecletismo brasileiro deu origem ao samba, ao carnaval, ao nosso variado folclore, e mais tarde à bossa-nova, na Argentina a mistura de influencias resultou principalmente no Tango e na cultura criolla dos pampas.

Ao mesmo tempo, tudo em Buenos Aires é monumental, grandioso. É como se a influência de cada cultura européia tenha sido marcada por atos mais ousados e ambiciosos. Os palácios, as praças, os casaroes, percebe-se que tudo foi feito sem pudor ou discriçao. Muito pelo contrário, tudo parece ter sido orgulhosamente feito para ser percebido, notado, deleitado, comemorado. Por consequencia, cada uma dessas marcas especificas ainda está preservada e presente.

Diferentemente do Brasil, também é preciso dizer que neste caldeirao cultural portenho, nao entraram os ingredientes africanos. Mas, apesar de menos diverso, o caldo nao saiu tao homogeneo. É como se o caldeirao nao tenha sido bem mexido. Em Buenos Aires tenho a sensacao que os ingredientes ainda se destacam mais do que o prato final.

É isso. Talvez seja difícil, no meio de tantos ingredientes, todos eles com um paladar marcante e saboroso, reter na mente qual é afinal o gosto, integral e particular, deste prato raro.

***

Talvez ter viajado para cá sem saber muito a respeito de Buenos Aires também tenha dificultado a sensaçao de "reconhecimento". Na verdade, minhas referencias resumiam-se ao trio "tango, chorizo e Perón".

Aos poucos, no entanto, vou me encontrando. No meio de todas as marcas da globalizacao, já dá gosto ler a tipografia da cerveja Quilmes estampada nos outdoors, assim como poder ver as centenas de Pegeouts anos setenta amplamente usados nas frotas de taxi.

Como remédio, tenho tentado aos poucos mergulhar nas minhas rasas referencias. Tenho procurado descobrir o tango, nas ruas e no disc-man. Estou lendo um romance que se passa aqui em Buenos Aires. Li um conto de Borges pela primeira vez, e caí para trás. Ainda vou comprar também algo do Cortázar.

Minhas andancas também ajudam. Pouco a pouco vou formando a imagem, a minha imagem, disto aqui. Aos poucos, também parece inevitável envolver-se com o patriotismo apaixonado que os argentinos tem pelo próprio país. O que ainda me intriga é que toda essa paixao tem que, necessariamente, ser causa e consequencia de uma identidade forte. Uma identidade tao forte que eu ainda estou lutando para decifrá-la.

Nem sempre é fácil conquistar uma cidade. Talvez eu já tivesse me esquecido disso.

P.S.: Este texto foi escrito uns 10 dias atrás.

Wednesday, December 08, 2004

Ainda sobre a noite

Quando te perguntarem se você gostaria de ir a um boliche, por favor, nunca responda que nao está a fim de jogar bolas pesadas em pinos de madeira.

Quase fiz isso. Ficar quieto, às vezes, é bom negócio. "Boliche", por aqui, é um tipo de bar-danceteria. Balada, é claro. Bem que estranhei tanta gente falando que ia a um boliche.

Confirmando Clichês Inevitáveis

A noite de Buenos Aires é sempre uma criança.

Sexta-feira saí com um pessoal da escola de espanhol. Nos acompanharam também mais dois chicos portenhos. Os dois argentinos, claro, azarando minhas colegas gringas sem trégua e, pobres, também sem sucesso. Gente boa os dois, mas iam com muita sede ao pote.

Nao fomos a nenhuma danceteria, apenas uma peregrinaçao por alguns bares. Saímos já tarde e, até todos se encontrarem, quando começamos a andança já era passada a primeira hora da manha. Quatro horas mais tarde, voltávamos à pensao para deixarmos as meninas. O dia já estava claro e eu, esgotado. Uma garota americana, que pesava uns 120 kilos, ainda se animou para ir a um bar brasileiro. Queria dancar forró, danadinha.

Como dizem em Sao Paulo, eu bebi leite. Voltei para casa e me deitei quando já eram quase seis e meia. O sol já despontava e, bem, confesso que me bateu um certo orgulho de ter atravessado a noite portenha pela primeira vez. Consciente, é claro, que fui fraquinho e que muita coisa ainda devia estar rolando lá fora.

Hmmm...

Conhecendo italianos, indo ao ballet. Quem leia estas notas talvez nao julgue bem minha masculinidade.

Ballet

Na semana passada fui ao Teatro Colón. Tao bonito e alguma coisa maior que o Municipal de Sao Paulo. E ainda dizem que tem uma das melhores acústicas do mundo. Estava em cartaz o ballet Don Quijote, com atuacao especial de Paloma Herrera, como Dulcinéia, e Marcelo Gomes, como Basílio. Ambos formam o casal de primeiros-bailarinos do American Ballet Theatre.

Depois de ser pedante e pretensioso o suficiente, posso confessar que paguei só dez pesos (mais ou menos dez reais) pela entrada. Um ótimo negócio, considerando-se que uma visita guiada ao teatro custa sete pesos. Logicamente, nada é por acaso - a pechincha te dá direito a ficar em pé, durante três horas, num lugar atrás das cadeiras do penúltimo balcao. Mas, o que pode parecer sofrível descrito aqui, acaba sendo um programa excelente - a visao do palco é ótima e as tres horas passam rapidinho.

Já fui a algumas óperas em Sao Paulo, mas nunca havia visto um ballet antes. O ato falho entao foi inevitável - quando a orquestra comecou a tocar e as cortinas se abriram, esperei atentamente o sujeito no palco encher o peito e soltar a voz. Nao veio nada, é obvio.

Para mim, que nao conheco muito do riscado, o ballet foi excelente. A julgar pelos gritos de "bravo!" e aplausos da platéia, deve ter sido bom mesmo. Mesmo para um leigo também é fácil perceber porque a tal Paloma foi eleita uma das dez maiores bailarinas do século XX. A moça flutua. Tem 29 anos, é argentina e praticamente um mito por aqui. Seu parceiro, Marcelo, é de Manaus. Bem, acho que já tinha ouvido falar dele.